Carlos Drummond de Andrade e Josélio Barros
Abaixo deixo um poema que meu pai escreveu para Drummond pouco tempo antes da morte do poeta. Drummond apreciou o presente em forma de poema e agradeceu ao desafio poético escrevendo uma bela carta-resposta à papai.
Obs.: Quando publicarmos seu livro de poemas mostraremos o belo documento manuscrito do grande Drummond.
Drummond J. Barros
AO POETA MAIOR
(A Carlos Drummond de Andrade, em 31.10.84, por seu aniversário)
Drummond:
Dizem que tu és maior;
O poeta maior. E serás mesmo?
Nem tu podes dizê-lo. No entanto,
és um poeta; Isto nos basta, simplesmente.
O desafio que te faço, agora, é positivo,
porque espicaçõ o gênio a nos dizer
e confirmar aquilo que foi dito,
e que te digo, em palavras novas:
Assim tem caminhado a humanidade;
Assim tem progredido o bicho homem.
Eu, Sancho Pança; Tu, Quixote, um dia.
Neste dia, quem sabe, hás de me ouvir,
e iras dizer, do alto de teu lastro,
se não passo de pó, nesse teu rastro,
poeira cósmica, tua cauda, astro,
nesta minha pretensa poesia.
Vem, pois, amigo, ó poeta amado,
destrói, que seja, este pobre bardo,
este imbecil que te afronta assim.
Vem, dá de ti, nos dês, ainda que seja
sobre esta pobre página, sobeja
demonstração de que tu vales mais.
De nada mais que valha este escrito,
há de ficar, em lápide, inscrito,
se merecer de ti uma resposta.
By Josélio Barros em 31.10.1984
Rio, 20.XI.84
Prezado Josélio Barros:
Só ontem, remetidos pelo "Jornal do Brasil", recebi os versos que compôs à margem de meu aniversário. Fiquei muito (?)* a essa generosa demonstração de simpatia, e apreciei sentidamente o vigor e espontneidade do poema.
Abraça-o cordialmente
Carlos Drummond de Andrade
* Creio que a palavra seja "feliz", mas ainda não estou segura.
Obs.: Quando publicarmos seu livro de poemas mostraremos o belo documento manuscrito do grande Drummond.